terça-feira, 3 de abril de 2012

Jardim das Folhas Sagradas


Apesar da dificuldade em abordar temas tão delicados quanto o preconceito racial, a homoafetividade e os questionamentos ligados à religiosidade, Pola Ribeiro conseguiu, através de Bonfim (Antônio Godi), desmistificar um pouco do universo do candomblé. Um filme rico em simbologias, muitas compreendidas apenas por iniciados ou estudiosos da religião, foi capaz de encantar também a leigos graças, inclusive, a discretos esclarecimentos nos diálogos. Além disso, foi levada à telona uma boa representação do que é aprender a lidar com traços religiosos tão enraizados em meio a tantos conflitos pessoais (a bissexualidade, um casamento conturbado, a não aceitação de seu "destino") e como é viver essa tradição em um mundo modernizado (traduzido em Salvador) que, em tese, não condiz com os ensinamentos por ela propostos, principalmente no tocante à obediência, ao sacrifício, ao equilíbrio e, acima de tudo, às questões ambientais (seja na resistência do personagem com relação ao elemento de seu Orixá, seja no que diz respeito ao espaço urbano, em si).

Um longa bastante baiano e contemporâneo que deixa reflexões e críticas muito relevantes em torno da intolerância religiosa e faz pensar em alguns aspectos que passam batido em nossa educação formal, a exemplo do conhecimento desse "mistico" tão facilmente aplicável a tantas outras questões da vida em sociedade.

Com conflitos bem trabalhados no roteiro, Pola ainda contou com um elenco convincente, uma fotografia muito boa (Antônio Luiz Mendes), uma arte bastante atenciosa (Gilson Rodrigues) e uma trilha sonora de arrepiar.


Mila Carillo

Pedro Bala, Professor, Gato, Sem Pernas e Dora os capitães de Jorge Amado que ganharam as telas do cinema. Assim como o romance, o filme Capitães da Areia, nos apresenta esses capitães e sua rotina, um grupo de menores abandonados que viviam em Salvador nos anos 30. Roteiro baseado na obra de Jorge Amando que causou polêmica no ano de seu lançamento ao ser acusado pelo governo por propaganda comunista, vem agora com uma obra cinematográfica alinear e com toques de sensibilidade que nos faz transitar entre o lúdico e o real, lúdico pela forma que os roteiristas Cecília Amado, também diretora e Hilton Lacerda, posicionaram a obra e o real pelo contexto social que essa obra está estruturada que não foge da realidade de hoje. Trilha sonora de Carlinhos Brown impecável fazendo uma quebra da linha história. A fotografia um espetáculo de cores e textura, por Guy Gonçalves.